08/11/2010

Saudade louca de Caeiro




     Estou aqui folheando Roberto Freire, em "Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu!" atrás do momento exato em que ele me apresentou Alberto Caeiro, mas não encontro.


(...)


Encontrei!  Acho que foi logo aqui, que eu me entreguei a ele. Ele dizia assim:


"(...) Eu dizia que identificava, no meu inconsciente, as bases e os preceitos da Gestalt Terapia com algo que já sabia e já vivia por alguma coisa incorporada à minha vida desde os tempos de mocidade, inclusive antes de me interessar pela ciência.
     Foi lendo um artigo de Cláudio Naranjo, um dos teóricos mais cultos e profundos da Gestalt Terapia, que descobri ser o meu amor à Poesia a razão dessa familiaridade. O artigo de Naranjo era 'Centralidade no Presente: Técnica, Prescrição e Ideal'. E descobri que fora Fernando Pessoa, mais especificamente sob o heterônimo de Alberto Caeiro que, quando eu era muito jovem ainda ensinou-me os preceitos da vida boa que eu veria tantos anos depois analisados através da obra dos grandes poetas de todos os tempos no artigo de Naranjo.(...)"


     Assim disse ele, e continuou dizendo num longo capítulo, sobre como o mestre de Fernando Pessoa e de seus outros dois heterônimos, também se tornou o seu próprio. Quando eu li esse livro, acho que há um ano, eu estava totalmente engajada em pesquisar sobre Somaterapia, Gestalt Terapia, e já era fanzoca do Wilhelm Reich. E então, foi me apresentado em grande estilo Alberto Caeiro, hoje estimado. Mais um dos grandes guerreiros das couraças, o mais simples deles.
     O "guardador de rebanhos", homem de visão aparentemente ingênua e instintiva, entregue às sensações(copiei da companhia de bolso). É agora, pra onde eu corro, quando essa neurose gestáltica me pega de jeito. Nada melhor que essa simplicidade. Falei demais. As que mais me falaram alto hoje, 08/11/2010:








 
Navio que partes para longe,
Por que é que, ao contrário dos outros,
Não fico, depois de desapareceres, com saudades de ti?
Porque quando te não vejo, deixaste de existir.
E se se tem saudades do que não existe,
Sinto-a em relação a cousa nenhuma;
Não é do navio, é de nós, que sentimos saudade. 
--

Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço, 
Da trovoada de depois de amanhã?
Tenho a certeza, mas a certeza é mentira.
Ter certeza é não estar vendo.
Depois de amanhã não há.
O que há é isto:
Um céu de azul, um pouco baço, umas nuvens brancas no horizonte,
Com um retoque de sujo embaixo como se viesse negro depois.
Isto é o que hoje é,
E, como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo.
Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã?
Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã
Será outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido.  
Bem sei que a trovoada não cai da minha vista,
Mas se eu não estiver no mundo.
O mundo será diferente —
Haverá eu a menos —
E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.
 





Tem mais Caeiro aqui: http://www.revista.agulha.nom.br/alberr.html
Tem Cláudio Naranjo aqui: http://www.claudionaranjo.net/index_portuguese.html


Viva!

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