16/01/2011

E aí tá no chão ferido, todo mundo chuta, e chutam, e saem todos com os egos inflados te deixando lá estirado. Aí você meio que aprende a fazer cara de mau pras pessoas, as novas pessoas, porque as velhas, já não te respeitam mesmo, já era. E faz cara de mau porque antes você deu risada e tomou cachaça junto, e deixou fragmentos das suas fraquezas que só precisaram de um empurrão pra deixarem de ser só fragmentos e se tornarem um prato cheio pra essa gente adestrada a te diminuir pra se garantir.
Aí, você lá ainda estirado, fazendo cara de mau, com uns lá do seu lado fazendo o papel de bonzinhos pra te diminuir do mesmo jeito dos anteriores.
Aí, você muda né, se você não mudar, você se mata. E você irrita todo mundo, porque eles te conhecem como uma figura inferior, eles não podem admitir que você vá além. E sua cara de mau, autoritária, os irrita também, porque eles só respeitam autoritarismo. E aí, eles continuam te lembrando do dia em que você esteve estirado, todas as vezes que se sentem acuados pelos seus novos conhecimentos, sua nova postura... E esses filhos da puta ainda conseguem atrasar a sua vida, porque não devem ter vidas satisfatórias que ocupem os seus respectivos tempos, e ficam apontando os dedinhos podres pra você pelas ruas.
E aí você já descobriu um monte de coisa sobre conviver nessa gaiola humanóide, e já consegue explicar a sua labuta olhando pra filhos da puta iguais que viveram bem antes de todos que vivem com você.
Aí você vê que é bem mais fácil não querer se vender, quando ninguém quer te comprar, e se sente feliz porque ninguém quis te comprar.
E aí você descobre que existe vida e sai atrás dela.

17/12/2010

"MANO, EU PRECISO SAIR DESSE ESTADO DE ACOMODAÇÃO URGENTE! URGENTE! ANTES QUE EU FIQUE VELHA!" Tipo isso aí.

23/11/2010

Hoje, eu estou com as canelas doídas, mãos e pés sujos, cabelos empoeirados e fedidos, olheiras fundas e uma alegria imensa. Não sei o que é bem. Acho que pela primeira vez aquela história toda que eu acho linda de amor, trabalho e conhecimento, está se formando em sentido, está logo ali na esquina, e nunca me pareceu tão fácil abraçá-la e beijá-la insistentemente.
Hoje, eu quero abraçar e beijar um monte de gente que eu vejo por aí que brilha nas margens escuras. Acaba sendo bem fácil tudo isso, são tantos deles, só é preciso procurá-los.
Há também, hoje, aquela calma que o cansaço te dá, e então você toma um banho, e vê tudo claro.
Há um tanto de saudade de gente, e um pouco de gosto amargo de não ter compartilhado o sentir de hoje com essas, o que eu queria tanto e egoísta.


Este blog, não está legal. Exercício de ego, já bastam as outras besteiras da internet. Quero escrever sobre Permacultura e Somaterapia e mil outras coisas, vou em breve. Vou ouvir Amebix, porque me deu uma vontade louca agora, e dormir depois.

13/11/2010

Estavam todos eles bem trajados, sorridentes e dançando. As fêmeas, todas muito bem maquiadas, e exibindo suas prendas, prendas essas, muito pouco excitantes em relação às das minhas favoritas que moram nos romances do século XVIII. Alguns sorriram pra mim, e eu retribuí os sorrisos. Eu até tentei me inserir naquilo tudo, era bonito, rico, culto por vezes, e aparentava ser prazeroso, mas acho que não sou boa demais, ou ruim demais... Mas me encheu o saco. Quis mandar todos a puta que pariu. Saí, tranquei as portas e ateei fogo. Cuidei minuciosamente pra que não pudessem sair.

08/11/2010

Saudade louca de Caeiro




     Estou aqui folheando Roberto Freire, em "Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu!" atrás do momento exato em que ele me apresentou Alberto Caeiro, mas não encontro.


(...)


Encontrei!  Acho que foi logo aqui, que eu me entreguei a ele. Ele dizia assim:


"(...) Eu dizia que identificava, no meu inconsciente, as bases e os preceitos da Gestalt Terapia com algo que já sabia e já vivia por alguma coisa incorporada à minha vida desde os tempos de mocidade, inclusive antes de me interessar pela ciência.
     Foi lendo um artigo de Cláudio Naranjo, um dos teóricos mais cultos e profundos da Gestalt Terapia, que descobri ser o meu amor à Poesia a razão dessa familiaridade. O artigo de Naranjo era 'Centralidade no Presente: Técnica, Prescrição e Ideal'. E descobri que fora Fernando Pessoa, mais especificamente sob o heterônimo de Alberto Caeiro que, quando eu era muito jovem ainda ensinou-me os preceitos da vida boa que eu veria tantos anos depois analisados através da obra dos grandes poetas de todos os tempos no artigo de Naranjo.(...)"


     Assim disse ele, e continuou dizendo num longo capítulo, sobre como o mestre de Fernando Pessoa e de seus outros dois heterônimos, também se tornou o seu próprio. Quando eu li esse livro, acho que há um ano, eu estava totalmente engajada em pesquisar sobre Somaterapia, Gestalt Terapia, e já era fanzoca do Wilhelm Reich. E então, foi me apresentado em grande estilo Alberto Caeiro, hoje estimado. Mais um dos grandes guerreiros das couraças, o mais simples deles.
     O "guardador de rebanhos", homem de visão aparentemente ingênua e instintiva, entregue às sensações(copiei da companhia de bolso). É agora, pra onde eu corro, quando essa neurose gestáltica me pega de jeito. Nada melhor que essa simplicidade. Falei demais. As que mais me falaram alto hoje, 08/11/2010:








 
Navio que partes para longe,
Por que é que, ao contrário dos outros,
Não fico, depois de desapareceres, com saudades de ti?
Porque quando te não vejo, deixaste de existir.
E se se tem saudades do que não existe,
Sinto-a em relação a cousa nenhuma;
Não é do navio, é de nós, que sentimos saudade. 
--

Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço, 
Da trovoada de depois de amanhã?
Tenho a certeza, mas a certeza é mentira.
Ter certeza é não estar vendo.
Depois de amanhã não há.
O que há é isto:
Um céu de azul, um pouco baço, umas nuvens brancas no horizonte,
Com um retoque de sujo embaixo como se viesse negro depois.
Isto é o que hoje é,
E, como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo.
Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã?
Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã
Será outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido.  
Bem sei que a trovoada não cai da minha vista,
Mas se eu não estiver no mundo.
O mundo será diferente —
Haverá eu a menos —
E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.
 





Tem mais Caeiro aqui: http://www.revista.agulha.nom.br/alberr.html
Tem Cláudio Naranjo aqui: http://www.claudionaranjo.net/index_portuguese.html


Viva!

07/11/2010

Hoje é um bom dia. Estou em clima poético e tupiniquim. Botei o amor romântico pra fora. Estou me tratando razoavelmente.
Última sexta, na farra poética do Barkaça, lembrança pura e linda me veio, e eu quis compartilhar, mas o medo dos olhos me deteve.
Quando fazia a quarta série do ensino regular,eu tinha 9 aninhos e uma professora de literatura que, OBRIGAVA a mim e aos meus colegas, a ler 2 livros por semana e a escrever uma poesia também. No fim do ano, lançaríamos um livro com a melhor poesia de cada um. Infelizmente, não guardei as minhas poesias, e os exemplares do livro que tinha, desapareceram nessa minha vida nômade. Mas lembro muito bem da poesia de minha autoria que foi para o nosso livrinho. Lembro também o quanto fiquei nervosa na hora do nosso recital, eu tinha pegado chuva e meu cabelo estava feio, fiquei com medo. Eis:


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Hoje


Hoje é diferente de ontem
E é diferente de amanhã
Cada dia tem seu jeito
De começar pela manhã


Nunca acontece a mesma coisa
em dois dias diferentes
Podem aparecer soluções
ou problemas diferentes


Dia-a-dia, manhã bela
Hoje vamos começar
Uma maratona que acaba
Quando a noite vem a chegar


Dia-a-dia, noite bela
O dia já acabou
Foi embora mais um sol,
que nosso dia iluminou.


Gabrielle que ainda não era Rozz.


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*Primeiro indício de identificação com o Alberto Caeiro.